quinta-feira, 5 de junho de 2008

Amarga questão

Questões acerca das formas de produção e das tecnologias que envolvem o biocombustível brasileiro tem sido alvo de amplas discussões nacionais e internacionais. Nosso presidente participou inclusive, esta semana, da conferência sobre segurança alimentar da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) na Itália, para discutir tal assunto. Hoje, o jornal britânico The Guardian, publicou uma reportagem sobre esta polêmica. Sob um título-trocadilho, “Bonança do biocombustível não tão doce para cortadores de cana-de-açúcar, a reportagem do The Guardian aborda as condições de trabalho dos cortadores de cana brasileiros, a questão do desmatamento provocado pelos biocombustíveis e o possível aumento dos preços dos alimentos no mundo.
A notícia inicia preconizando que meio milhões de empregos e 500 anos de tradição serão extintos com a explosão da indústria da cana-de-açúcar para satisfazer as demandas ocidentais por práticas trabalhistas mais “socialmente aceitáveis” no setor dos biocombustíveis. A reportagem acrescenta que os cortadores de cana, que trabalham nas terras brasileiras desde 1525, terão que abrir caminho para a mecanização.
Segundo depoimento dado à reportagem, a UNICA revela que 80% dos 500 mil empregos podem desaparecer em três anos, e que a mudança para o sistema de utilização de tratores causaria revolta na mão-de-obra imigrante.
De acordo com a reportagem as condições de trabalho dos cortadores de cana foram raramente noticiadas quando a commodity (cana) era exportada para produção de açúcar, e que agora que o Brasil é o segundo maior exportador de etanol à base de cana para utilização como biocombustível, houve uma mudança de posição.
A reportagem afirma que por trás da mudança de remover gradualmente os trabalhadores da cana, estão cadeias de exploração, que têm prejudicado a imagem do biocombustível brasileiro perante grandes países importadores como Sweden e Inglaterra. A notícia acrescenta que críticos têm acusado a indústria brasileira da cana-de-açúcar de envolver trabalho infantil, altas taxas de acidentes e trabalhadores ganhando menos de 1,35 dólares por hora.
O periódico britânico ainda afirma que o governo brasileiro pensou que poderia construir uma gigante e nova indústria acerca do biocombustível, mas que este sonho está em perigo, pois este setor se tornou alvo de argumentos do tipo “food for fuel” (comida por combustível), e da idéia de que o aumento no preço dos alimentos pode ser atribuído aos fazendeiros que destinam suas terras para plantar para os biocombustíveis.
O jornal ressalta que também existem reclamações de que os biocombustíveis têm causado desmatamento em áreas sensíveis, como, por exemplo, na Amazônia. A UNICA se defende, afirmando que os subsídios concedidos aos fazendeiros europeus e norte-americanos e aos biocombustíveis, é que pode ser uma das causas do aumento no preço dos alimentos. A UNICA defende também que a produção do etanol não afeta a Amazônia, já que lá o solo é muito úmido para plantar açúcar.
Será que não podemos nos destacar positivamente em nenhum aspecto, seja este econômico, político, social, que os ditos países do “primeiro mundo”, tentam nos colocar empecilhos? Não podemos ser pioneiros em nada? Claro que temos muitos problemas e dificuldades a serem enfrentados em nosso país, e obviamente nós sabemos disso. Mas porque não reconhecer quando fazemos algo benéfico, e neste caso, não só para nós, mas para todo o mundo? Essas são perguntas, para as quais imaginamos as respostas.

Fonte: The Guardian
Foto: The Guardian

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